Tudo tem Limite!

Esse é o relato breve de uma psicografia. E a mensagem é apenas essa. Independente de sua crença, as palavras abaixo são situações reais da vida. Leia! Quem sabe...

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Anália acordou, e ao levar a mão para a direita, lá estava quem ela havia escolhido para estar ao lado dela, vencendo as adversidades para construir uma vida. Ela amava a pessoa que dormia ao lado dela todas as noites. Acordou feliz e sorridente, mas ao abrir os olhos e se lembrar de como as coisas estavam, a alegria que habitualmente sentia por amar a vida desapareceu novamente.

Essa é a vida – ela pensou.

A seis meses não existia mais diálogo ou sequer tempo, ela escutava e era só. Havia sido apontada como insensível e egoísta, e por isso, adotou o silêncio e resolveu esperar. Uma hora tudo ficaria bem - era o pensamento que a consolava diariamente.

Anália sentou-se na cama, calçou os chinelos, que ela já havia remendado algumas vezes. Vestiu a camiseta velha e levantou-se para fazer o café. O café mal havia ficado pronto e a pessoa que dormia todas as noites ao seu lado, tomava a xicara de café e saia carregando a bolsa, apressada. Estava atrasada.

- Achei que iriamos tomar café? – comentou Anália.

- Amor, não posso, o dia hoje vai ser cheio. Fica para o final do dia, pode ser? Acho que vou ter um intervalo perto do almoço. Quem sabe almoçamos... – comentou a companheira saindo apressada.

Anália sorriu e concordou com a cabeça. Era importante.... Ela podia esperar, afinal, tinha tempo e seu projeto era apenas para o próximo ano.

O almoço chegou, arrumada, Anália estava fechando a porta quando o telefone tocou e do outro lado da linha, alguém disse.

- A Karina pediu para avisa que precisou sair para atender um cliente Anália, disse que te encontra no final do dia no café de sempre – disse uma voz do outro lado da linha.

Anália respirou fundo.

- Ok, tudo bem – respondeu desligando o telefone.

O pedido de ajuda havia sido esquecido, afinal fazia mais de três meses que ela havia conversado com a companheira dizendo que precisava de ajuda em algo que ela não apenas não fazia ideia de como fazer, mas algo que a deixava com certo medo.

Mas era um cliente e era importante. Quem sabe no final daquele dia, no café. Não é? Ela não queria ser acusada de insensível e egoísta novamente

O dia passou, Anália estava em crise. Suas ideias haviam desaparecido fazia meses. Não conseguia produzir ou sequer dar continuidade em seu projeto. A cobrança era diária, dela mesma e toda semana do grupo que havia contratado seus serviços e queria alguma posição sobre o trabalho. Já que nem o material necessário ela havia solicitado a compra. Anália era formada em belas artes, havia sido uma ótima aluna e sempre com destaque em seus projetos e ideias. Mas tudo agora parecia ser uma lembraça distante, já que ela não conseguia produzir nada a um bom tempo.

No último mês suas roupas haviam ficado largas. Ela havia tido problemas com cruzamentos e algumas vezes acabara sendo puxada para a calçada por desconhecidos, por estar desatenta demais para conseguir se concentrar nos carros. Principalmente em uma cidade grande.

O dia passou. Eram seis horas da tarde e ela se sentava na única mesa que estava disponível no café. Pediu seu café de sempre, e olhou o celular que havia acabado de apitar a entrada de uma mensagem.

“Vou atrasar um pouco, dia difícil. Vai pedindo, já chego”

Anália fez seu pedido e enquanto esperava, tirou o caderno de desenho da bolsa. Colocou-o sobre a mesa e pegou o lápis.

Seu pedido chegou, o café esfriou junto com o pão, e o papel permanecia em branco diante dela. O dia já havia escurecido e várias mesas estavam vazias. Era oito da noite quando a cadeira diante dela foi puxada.

- Amor, mil perdões. Tivemos problemas tive reunião, acertos de entregas de clientes. Cancelamentos, acordos, foi tenso. Meu dia foi um inferno. O que você pediu? Acho que vou pedir o mesmo. Pensei em irmos depois dar uma volta, tem uma exposição naquela praça no centro. Os colegas de trabalho comentaram, acho que alguns clientes nossos gostaram da ideia. E acho que vai ser bom para seu projeto.

Anália não respondeu. Sorriu e guardou o caderno.

Não encostou no café, estava frio já. O pão, deu umas beliscadas enquanto escutava Karina contar sobre os imprevistos no trabalho.

Ambas terminaram. Karina levantou-se e para compensar o atraso, disse que cuidava da conta.

Anália novamente sorriu, e não respondeu.

Ambas saíram do café, Karina chamou um taxi e assim que abriu a porta do Taxi, Anália colocou a bolsa no ombro e disse:

- Te vejo e casa. Estou cansada, pode ir. Vai ser bom para o seu trabalho. Depois você me recompensa.

- Te deixo em casa. Peço para ele fazer um desvio – comentou Karina.

- Não precisa. São duas quadras – respondeu Anália.

O taxi fechou a porta e saiu.

Anália ainda ficou olhando o taxi alcançar o final da rua e dobrar a esquina. Tudo estava deserto, novamente ela respirou fundo e virou-se para a direita.

Caminhou até o final da rua, o pensamento longe. No passado talvez, na promessa que havia escutado quem sabe? Mas tudo vai ficar bem, era o que ela sempre escutava, naquele momento ela já não sabia mais se o ficar bem, era que as coisas sempre se ajeitavam ou por serem como são, estava bem. Ela já não conseguia raciocinar ao certo. Lembrou-se que amava acordar com o cantarolar dos pássaros e os raios de sol, e agora, nem os escutava mais. Ela nem se recordava mais quantas vezes havia mudado seus planos, deixado para lá alguma coisa, ou outra. Deixado a conversa para depois, adiado tarefas, adiado planos, mudado todo seu cronograma.

Foram três passos depois do meio fio. Foi o que o senhor que assistiu a tudo disse para a polícia. A ambulância não demorou a chegar, o serviço era rápido, mas não havia muito o que fazer.

Karina, da praça, escutou a ambulância. Para ela, que chegaria em casa e encontraria uma casa vazia daquele dia em diante. O “depois resolvemos” teve um alto preço que ela paga até hoje, pois mesmo depois de anos, ainda vai demorar para conseguir superar o peso que a consciência dela colocou sobre seus ombros.

Para Anália, bem... O espírito dela nunca mais se esqueceu de como ela se sentiu assim que chegou do outro lado. Mas isso é particular dela, e ela não quer que seja revelado.

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A frase que ela pede para deixar como lição é:

“- O quê você está esperando? Entenda, amanhã pode ser tarde. Me refiro a realizar, a buscar, a parar de esperar. O amor é parte da vida, mas a sua vida vem em primeiro lugar, seu sonho, sua realização, sua busca, sua vontade, seu amor por você! Você não responde pelo outro do lado de cá, responde apenas por você mesmo, pelo que fez e pelo que escolheu deixar de fazer.”

Anália | 1961 à 1993